terça-feira, janeiro 25, 2011

Oscar 2011 - parte seis

Nove meses depois

Em 25 de abril de 2010, os dados rolaram nesse blog. Apostei. Apostei alto. O que fiz? Citei 10 filmes (na verdade, roubei e indiquei 11), 10 atrizes (idem, mas abusei ainda mais e citei 12) e 10 atores que concorreriam para o Oscar 2011. Em abril do ano passado, nenhum dos filmes indicados por mim havia sequer estreado nos EUA - muito menos aqui, abaixo do equador. Não me lembro de muita gente fazer isso, ao menos não com tanta antecedência.
Qual foi o resultado? Acertei cinco:
The King's Speech, True Grit, The Kids Are All Right, Toy Story 3 e Inception.
Peço que levem em consideração que três das minhas indicações - The Tree of Life, Jane Eyre e The Conspirator - ainda não foram lançadas no mercado dos EUA, ficaram para 2011, como mencionei recentemente aqui. Ou seja, nem concorreram - concorrerão, talvez, ao Oscar 2012.
Como foi possível? Pai Gustavo lê o futuro? Tenho uma Hot Tub Time Machine? Sou o Nicolas Cage? Não, nada de máquinas fantásticas ou poderes especiais. Há algumas explicações para os acertos. Vamos a elas:
1 - Temos Vagas.
Desde o Oscar 2010, dez filmes passaram a ser indicados a melhor produção. A mudança aumentou sensivelmente a chance de acerto. No caso desse ano que passou, por exemplo, em que a safra de filmes não foi nada espetacular, não foi cometida nenhuma injustiça. Talvez o filme do Ben Afleck, The Town? Ou Alice in Wonderland? Convenhamos, não indicá-los não é nenhuma injustiça. Talvez Animal Kingdom pudesse estar na seleção, mas a cota de filmes alternativos já estava preenchida - Winter's Bone, The Kids Are All Right.
2 - Filmes lançados no fim do ano têm mais chances.
127 hours e King's Speech, lançados em novembro. Black Swan, The Fighter, True Grit, dezembro. Metade dos filmes indicados - a cota já foi percentualmente maior, quando eram apenas cinco vagas. Isso não é novidade. Filmes são pré-produzidos, produzidos, lançados e distribuídos pensando-se na temporada de prêmios, e, em especial, no Oscar. Isso acontece desde sempre: blockbusters são lançados nas férias de verão dos EUA, entre junho e setembro; filmes mais profundos, dramáticos, com atuações mais elaboradas, temáticas adultas (o que quer que seja tudo isso) ficam para o final do ano, entre novembro e o ano novo. E assim é que é, desde que a cerimônia do Oscar estabeleceu-se ali entre meados de fevereiro e início de março. E desde o Oscar de Mutiny on the Bounty, no distante ano de 1936, os filmes do final do ano são mais premiados, ou ao menos mais indicados. 
3 - Preferências por gêneros.
Não diria que existe receita para ganhar o Oscar, mas a Academia tem preferências facilmente identificáveis. Exemplo: um excelente western será certamente indicado; um excelente filme de terror provavelmente não. Entenderam? Há implicâncias. Outro exemplo: um excelente épico será indicado, uma excelente comédia (comédia pura, rasgada) provavelmente não. A Academia é assim. Gosta de dramas, gosta muito de épicos, ama histórias de superação (ainda mais quando verídicas), adora histórias de realeza e de aristocracia decadente (principalmente britânica), e venera filmes sobre a América e os americanos. Não é muito fã de comédias, principalmente comédias rasas, torce o nariz para filmes de terror, morre de medo de filmes com muitos efeitos e poucos atores, ignora filmes de ação ou filmes pipoca, tem sérias reservas a filmes sci-fi. A mudança para dez filmes tem permitido que as ovelhas negras - filmes de terror/suspense, filmes de ação/pipoca, filmes de efeitos/pirotecnia - sejam lembradas, vide Avatar, Inception, Black Swan, District 9. Mas a mudança nos leva ao quarto ponto.
4 - Cinco é pouco, dez é demais
A pergunta verdadeira é: o mercado americano produz 10 filmes muito bons (o certo seria excelentes, mas estou sendo razoável aqui) todo o ano? A resposta é: hoje em dia, não. Por isso mesmo é fácil identificar pelo menos alguns futuros indicados. Basta saber que o filme é muito bom. Em resumo, apesar de ser um mercado que lança centenas de filmes por ano, a concorrência para o Oscar é pequena - são poucos filmes que merecem ser lembrados.
5 - Predileção ou bem-vindo ao clube
A Academia não gosta de nomes novos, em geral. Particularmente diretores e atores (homens). Gosta de ser levada a sério e de gente (atores e diretores) que se leva a sério. Não gosta de fanfarrões, blasés e alternativos, tem um pé atrás quanto a badboys. A Academia adora vencedores. Adora histórias de superação, adora retornos triunfais. A Academia se arrisca mais com indicações para atrizes, aposta em nomes novos ou até mesmo desconhecidas. Não faz isso com atores. Machismo? De certo modo, sim: atores conseguem grandes papéis mesmo mais velhos, o que ocorre menos com atrizes. Seus votantes são, em sua maioria, democratas moradores de Los Angeles. Gostam de quem gosta deles. É um clube, pessoal. Tem mais chances quem já é do clube. E ainda mais chances quem faz sucesso no clube.

Levando-se em conta tudo isso e tendo uma lista de lançamentos para o ano, é, sim, possível prever os indicados, ou parte deles.  Mas também é sempre interessante ser surpreendido, e, acreditem, fui surpreendido.
Mais sobre isso a seguir. ;-)
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