quinta-feira, fevereiro 14, 2008

todos os eus e mais alguns - parte XII (ainda)

(continuando o post anterior...)

Com um amigo, num café (não, dessa vez não é o inagaki).

– E o que ela disse?
– Nossa...
– ...
– ...
– ...
– ...
– Então, o que ela disse?
– "Nossa". Ela disse isso. “Nossa”.
– Ah...
– Pois é.
– Humm... só?
– Só. Ela me auscultou e...
– O quê?
– Auscultou, escutou com o coisinha...
– Eu sei o que é “auscultar”.
– Pois ela me auscultou e disse, “nossa”...
– Uau...
– Pois é...
– Pesado...
– Cruel.
– E... mais nada?
– Nada. Sabe, cismei. Nada! Absolutamente nada. Não disse nada. Não perguntou nada. Nem se eu estava expectorando. Cuspindo sangue. A cor do catarro. Da coriza. Esses detalhes escatológicos que eles adoram.
– Ela deve saber.
– ?
– Pelo “nossa”. Ela deve ter sacado tudo isso na hora do “nossa”.
– ?
– Ué, não tem japoneses, chineses, taichi paimei banzai kungfu panda, essas coisas, que fazem diagnóstico segurando o pulso do sujeito? Já vi isso, existe. Pois é isso. Ela te escuta, digo, te ausculta, e sabe se você ta encatarrado, a cor do seu catarro, temperatura, pressão, viscosidade, tudo. Normal...
– ...

– E... que cor?
– ?
– Que cor que tá?
– Em cima ou embaixo?
– Hein?
– Em cima ou embaixo?
– Porra, Weber... ce ta cagando catarro?
– ... Quando assôo o nariz ou quando eu tusso? Em cima, nas fossas nasais, ou embaixo, nos pulmões?
– Ah... Os dois.
– Verde em cima. Amarelo nos pulmões.
– Cruzes.
– Pois é... me deixou preocupado. Vi na Internet. Quatro tipos de coriza e catarro. Transparente, branco, verde, amarelo. Transparente ou branco é virose, não tem o que fazer, esperar. Mas o amarelo e o verde é infecção bacteriana.
– E o azul?
– ?
– O azul.
– Que azul?
– O azul, o azul.
– Que azul? Verde amarelo azul e branco? Agora catarro tem que sair na cor da bandeira? Catarro nacionalista?
– Azul, ué. Da onde vem o verde? Tem o amarelo, cor básica. O verde não é cor básica. É mistura de amarelo, básico, e azul, básico. Amarelo e azul. E o azul?
– Sei lá da onde vem o azul do catarro verde. Devo ter brincado com uma caneta bic quando era pequeno, enfiei no nariz, vazou pra dentro. Agora a tinta misturou com o catarro amarelo, ficou verde. Satisfeito?
– Ta, ta. Só queria...
– O que eu ia dizer... atenção... o que eu ia dizer: ela não me passou antibiótico... só água.
– ?
– Água. Muita água. Cinco litros de água por dia.
– Cinco litros?
– Cinco litros. Por cinco dias.
– Cinco dias?
– Cinco dias.
– Cinco por cinco? O que ela é, numerologista? Isso é mandinga, macumba. Ou pior, ela quer é te afogar. Ou afogar as bactérias. Quem souber nadar vai sobreviver. Você ou elas.
– E nada de antibiótico...
– Ei... É isso.
– ?
– É isso. O azul. Aí, vai por mim. Bebe água não.
– ?
– Cianofíceas.
– O quê?
– Cianofíceas. Algas azuis. É um tipo de bactéria. Azul. Você deve estar com uma infecção de cianofíceas também. Daí o verde. Amarelo e azul: verde. Agora, presta atenção. Cianofíceas não se afogam. Elas vivem na água. Não vão morrer, não importa o quanto você beba de água. Cinco, dez, vinte litros. As amarelas podem até morrer. As cianofíceas não.
– ...
– ...

– ...
– ...
– Acho que vou numa farmácia, ver se o cara me sugere um antibiótico.
– Se você começar a expectorar o...o... azul...
– Se isso acontecer, eu te aviso.
– Avisa.
– Eu aviso o Faustão...
– ?
– Esquece.
– ...

– ...
– ...
– Tem bactéria azul mesmo? Tem isso?
– Bactérias azuis. Perigosas...
– Perigosas?
– Perigosíssimas... Tóxicas.
– Cianobitas é...
– Hein?
– O nome dessas bactérias. Você disse. Cianobitas.
– Cianofíceas.
– O que eu disse. Isso aí.
– Disse cenobitas.
– Disse?
– Disse... e... ce sabe o que são né, os cenobitas...
– Sei.
– Bom filme.
– Bom. Hellraiser. Bom.
– Muito bom.
– Bom.
– Tinha algum azul?
– ?
– Cianobita?
– ?
– Azul. Que nem a alga. De repente tinha um azul. Pra justificar o nome, parecido com o da sua alga...
– Não é ciano. É ceno. Cenobitas...
– Ceno, ciano...
– Não, ceno é ceno, ciano é ciano.
– E o que é ceno?
– ... Deve vir de koinos... koiné... comum, básico. Essas coisas. Grego.
– Grego?
– Clássico. Grego clássico.
– ?
– History Channel...
– Ah...
– E, vem cá, e ciano... é o que afinal?
– Azul, cara, azul.
– Claro claro... tipo oceano? O azul. O ciano. O azul. O azul do mar... imensidão azul... essas coisas... que é?
– ...
– Esquece... você que veio com a estória do azul.
– Cor básica. Tava faltando pra explicar seu ectoplasma aí.
– Aí, não se diz cor básica.
– Não?
– Não. Diz primária. Cor primária.
– Sei... Primary Colors. Tipo o filme do Clinton fingindo que é o Travolta.
– O contrário.
– Esse também, esse também... Travolta. Tem que rezar todos os dias e agradecer a São Tarantino...
– O Tarantino é bom...
– Bom...
– Ce viu o curta?
– Dele?
– Do seu Tomelo. E do seu Jorge. Falando do Tarantino.

– Vi. Parece isso né.
– O que.
– O Curta. A gente, aqui, falando besteira. Que nem eles. Num café. Que nem nos filmes do Tarantino.
– Ou do Jarmusch.

– Isso...
– ...
– ...
– Se bem que os diálogos deles são melhores...
– São não...
– São não?
– Nada...
– Pode ser...
– Tudo a mesma bosta...
–...
– ...
– Aí, vou nessa. Quanto...?
– Deixa que eu pago. Ce ta doente.
– Beleza.
– Melhoras.
– Valeu.
– E... não esquece...
– ?
– Se ficar... a cor...
– Ah...meus cenobitas...
– Isso... Me liga.
– Tá.

Marcadores:

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Hahahaha
Meu, ce é louco...

11:46 PM  
Anonymous Anônimo said...

Você devia era fazer um curta com essa história...

10:02 PM  
Blogger R. said...

Muito bom... mesmo!!!
Parabéns!

9:24 PM  
Anonymous Anônimo said...

olhe, isso é coisa de malabarista e não de cinegrafista....

1:09 AM  
Anonymous Anônimo said...

Engraçado mesmo!!

1:54 PM  
Blogger boblele said...

muito loko parabenssss

3:07 PM  

Postar um comentário

<< Home

Follow gugsweber on Twitter eXTReMe Tracker