quarta-feira, novembro 21, 2007

impressões impressionantes - dois anos, carlos e dylan

No dia 21 de novembro de 2005 escrevi aqui:

VontadeEsses dias me deu vontade de fazer um blog. Passou
Como podem ver, a vontade voltou, passou, voltou, passou mais que voltou, e, entre idas e vindas, esse espaço acabou completando dois anos. Aos trancos e barrancos, na UTI, com respiração artificial e um capelão que insiste em me dar a extrema unção. Já deve ter dado, mas, nhé para ele, permaneço aqui, agarrado ao meus moribundos bits e bytes.
Essa data de celebração me parece, por isso mesmo, por essa luta inconstante e um tanto esquizofrênica para sobreviver, uma vitória de gosto amargo. Queria dedicar mais tempo para cá, queria ser um verdadeiro discípulo de mestre ina e honrar seu nome. Mas, como ele mesmo já me disse, isso aqui é um anti-blog. Posts bissextos, sem um tema comum, e... longos... sempre muuuito longos. Em um blog que ousa se auto-intitular pequenas coisas. Enfim, ina tem razão, um anti-blog.
A propósito dessa vontade de lutar contra meu eu autodestrutivo – entre todos os eus e mais alguns, tinha que haver um autodestrutivo – e não enterrar esse espaço, lembrei de um lindo poema do Dylan Thomas, que traduzo aqui pra vocês. E de outro, do Carlos Drummond de Andrade, conhecido, que relata de forma simples e bela como vamos passando por fases da vida e mudando nossa forma de ver o mundo. E, que, para seguir na brincadeira, traduzi para o inglês – afinal, se do Dylan vem aqui em inglês e português, por que não o do Drummond também, certo? O poema do Drummond, por sinal, é um diálogo curioso com um discurso de Jaques, personagem de As you Like it, do Shakespeare, mas essa é outra estória. E, não, não traduzi esse trecho de As you like it. Ainda. Mas um dia cometo essa sandice e tento traduzir Shakespeare.

Para vocês, caríssimos, que resistiram a essa longa jornada e ainda freqüentam esse espaço, feliz aniversário para nós. Com Dylan e Carlos.
. . .

Poema de sete faces
Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
. . .

Poem of seven faces
When I was born, a crooked angel,
those who live in the shadow,
said: go, Carlos! be gauche in life.

The houses pry into the men
who chase after women.
The evening might have been colorful,
had there not been so much desire.

The streetcar hurries full of legs:
white black yellow legs.
Why so many legs?, God, my heart inquires.
And yet my eyes
question nothing.

The man behind the mustache
is serious, plain and strong.
Barely talks.
He has a few, rare friends
the man behind the glasses and the mustache.

My God, why hast thou forsaken me
if thou knew`st I was no God,
if thou knew`st I was weak

World, world, vast world,
if my name was Curled
That would be a rhyme, not a solution.
World, world, vast world,
Vaster is my heart.

I should not be telling you
but this moon
but this brandy
moves me like hell.

Tradução Gustavo Weber
. . .


Do not go gentle into that good night
Dylan Thomas

Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
. . .
Não siga docemente boa noite adentro

Não siga docemente boa noite adentro,
Na velhice, queime e brade ao fim do dia;
Ire-se, ire-se com a luz que vem cedendo.

Sábio, embora dê por certo o passamento,
Pois seu verbo já não apresa o que alumia,
Não siga docemente boa noite adentro.

Justo, que no adeus final, chorou quão bento
Seu débil feito bailaria à relva da baía,
Ire-se, ire-se com a luz que vem cedendo.

Louco, que cantou e roubou o sol do firmamento,
E aprendeu, já tarde, sua valsa de agonia,
Não siga docemente boa noite adentro.

Grave, enfermo, que, com olhos de não vendo,
Viu olhos cegos alvorarem de alegria,
Ire-se, ire-se com a luz que vem cedendo.

E a você, meu pai, em soturno ascendimento,
Rogo bravas lágrimas, de bênção, de heresia,
Não siga docemente boa noite adentro,
Ire-se, ire-se com a luz que vem cedendo.

Tradução Gustavo Weber

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4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Até que enfim, preguiçoso!
Jolly good translations!

9:07 AM  
Anonymous Anônimo said...

É engraçado dar boas vindas ao próprio dono da casa, mas:
Bem-vindo!

1:27 AM  
Anonymous Anônimo said...

Agora só falta o próximo post ser daqui a cinco meses...

7:34 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vontade?
Vontade sim!!
Que arde, que incomoda, que anima a alma...
NÃO MATE O JORNALISTA!!
As idéias não surgem forçadas, mas forçam surgimento a todo olhar.
Extravaze!

3:40 PM  

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