sábado, fevereiro 25, 2006

carnaval pra sempre agora agora - por que quarta feira de cinzas é logo ali ali

foto por arthur omar

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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

ponta de estoque


"compre agora e seja mais um perseguido
não por uma, mas duas, sim, duas religiões!"

(para batizados, ramadãs, páscoas, muharrans, natais e demais festividades religiosas pré e pós carnavalescas. pode ser encomendado na versão "cristo / maomé")

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quarta-feira, fevereiro 08, 2006

epigramas a la bumper sticker - doze

foto por gustavo weber

"A inércia é o meu ato principal"
(Manoel de Barros, o livro sobre nada)

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quinta-feira, fevereiro 02, 2006

todos os eus e mais alguns - parte VII

costumo ir à esquina – ok, não há esquinas em brasília, aceitem como licença poética – comprar pequenos produtos do dia a dia na padaria do alfredo. somos amigos, eu e alfredo, e já ganhei intimidade para confessar-lhe que prefiro o pão do supermercado ao dele. um dia mesmo cheguei a pensar em voz alta, ao lado dele, “por que será que aquele pão é tão bom?”. alfredo olhou para os lados, se inclinou no balcão e me chamou, com ares severíssimos. atendi prontamente. “sabes, já pensei nisso. e só há uma resposta sensata: cocaína. só pode ser, afinal, pão é pão, não se inventa, é tudo igual! veja bem: colocam lá um cadinho assim de cocaína na massa, os clientes se viciam e voltam sempre. cocaína, ó pá, tu escondes assim, na farinha, no fermento. e por que esse olhar, tu que tentes me contestar! como se não soubesses o que colocam aí nessa sua coca-cola! pois vês alguém comprando litros e litros de biotônico fontoura pra servir no aniversário, no almoço de domingo? xarope é xarope, tu sabes, mas só compram esse da coca-cola. assim, sem mais? está bém. ó pá, esse é irmão desse, como dizem, não me enganam”. é verdade, alfredo é português. e usa longos bigodes. e, juro, suspensórios. mas, não, isso não é uma piada. alfredo e sua lógica incontestável existem.
(a realidade é assim, às vezes joga baixo, empurra piadas gastas, batidas, diante da gente, mas, enfim, é o que há, e ela, a realidade, às vezes sorri sem graça e diz, “foi o que se pôde fazer”.)
comprei meus biscoitos e minha geléia no alfredo e fui ao supermercado. sim, em brasília, quase todas as quadras têm supermercados. ou hipermercados, não sei mais. adeus aos velhos mercados, aos bolichos, às vendinhas. hoje só se conjuga em superlativo. os gigamercados das quadras vendem de tudo, pães, dvds, pneus, flores. alfredo sobrevive graças a uma persistente e anacrônica mania que ainda temos de conviver, conversar com o dono, com os demais clientes, perguntar da vida e deixar o tempo passar mais fagueiro. mas, bem, os pães do megamercado são de fato muito bons.
peguei meus quatro pãezinhos franceses e me dirigi à fila do caixa único, aquele para pequenas compras. filas de super-giga-yota-mercados são curiosas. em bancos sempre há filas para clientes especiais, correntistas, essas coisas. supermercados democratizam a fila. não há clientes especiais. lá compartilham o mesmo espaço o alto executivo, o guardador de carros, o aposentado, o estudante, o senador, o louco, a jovem moderninha, o blogueiro. somos todos iguais.
a fila se arrastava. metade dela bufava impaciente, a outra metade – comigo incluído – aceitava o destino e passeava os olhos pelas prateleiras, e por vezes olhava outras filas, imaginando se acaso andariam mais rápido. de repente um grito, um shiii, um ei! uma moça estava furando nossa fila, pondo-se, sonsamente, à frente de todos, próxima a ser atendida.
"a fila é aqui”, repetiram vozes desencontradas. ela, nem te ligo. um menino por fim a cutucou, enviado por alguma mãe iracunda, e repetiu a frase. ela olhou, mostrou sua pequena barriga saliente e repetiu em alto e bom som, “estou grávida”.
o murmurinho cresceu até que alguém de bom senso replicou: mas vocês têm fila própria, para idosos e gestantes! os demais concordaram prontamente e olharam indóceis para a moça. ela apontou a outra fila, “olha, tá cheia de velhinhos, estão demorando muito. olha lá”.
era verdade, duas dúzias de velhinhos esperavam pacientemente a vez, e aqueles enfim atendidos deliciavam-se em contar os níqueis e bater um desapressado papinho com a caixa, sempre simpatissíssima.
dissenso na minha fila. alguns aceitaram o argumento da grávida, outros insistiam em voz baixa, é uma furona, furona. de súbito, um senhor sai de seu posto, ar de militar, põe-se de frente aos demais e pergunta com o queixo em riste, “como sabemos que ela está grávida? isso lá é barriga de grávida? essa menina está mentindo!”
mais alvoroço, a moça tenta retorquir, mas é de três meses, é de três meses, outros já ensaiavam um "mentirosa" com voz mais firme, até que a grávida se faz ouvir. “estou grávida sim senhor. ora! e se duvidam, que venha um médico aqui conferir.”
o general – sim, deveria ser de alta patente, e, mesmo que não fosse, a fila o havia promovido – indaga aos demais. “algum médico, algum médico?” nada. por um momento, ele espera, ansioso. nada. ele enfim dá o golpe final e pergunta em voz solene, “um veterinário, então?” constrangimento. a moça arregala os olhos. “veterinário? velho destrambelhado!”.
balbúrdia geral. juro que vi o general marchar para a moça e ela lhe meter um biscoito maria no meio do nariz. ele deu um tapa no biscoito e avançou nas compras dela; um moço alto e forte o agarrou por trás, compras voaram pelos ares. alguém gritou, chama o gerente, chama o gerente, e o general furibundo, agarrado por dois, fez coro, “isso chama o gerente que ele é quem manda, e ele pode ver que essa salafrária está mentindo”. pronto, em meio a biscoitos, cebolas, iogurtes e papéis higiênicos voando em todas direções, o gerente havia sido promovido a obstetra, e alguns engraçadinhos já gritavam, chama o gerente, manda ele fazer o pré-natal.
deixei meus pãezinhos numa prateleira e saí de fininho, pensando no alfredo, que certamente diria, “viu, é a cocaína”. e, afinal, o pão do alfredo não é tão ruim assim. e, de cocaína, já basta a da coca-cola, emendaria alfredo e sua lógica incontestável. é, faz sentido.

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quarta-feira, fevereiro 01, 2006

epigramas a la bumper sticker - onze

"A realidade é um repto. A poesia é um rapto. De uma para outra queimam-se os dedos, e como é de fogo que aqui se trata, tudo se ilumina."
(Herberto Helder, Photomaton & Vox)

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