sábado, novembro 26, 2005

precinha - porque hoje é sabado?

dia desses uma amiga se admirava com a boa maré que vinha vivendo. Aproveite as alvíssaras, dizia eu, aproveite. ela, temente aos céus, rezingava: não mereço tudo isso, não mereço. eu zanguei. não diga isso. e escrevi uma prece pra ela repetir ao pé da cama.

precinha

Nunca digo meu deus eu não mereço. Se acaso o onisciente escuta? Digo apenas, por tudo, e mais um pouco, eu agradeço. Pelos sabiás na janela pelas flores que eu roubo do canteiro pelo brigadeiro quente na panela por brincar na chuva em março e fevereiro pelas chuvas de papel picado em copa do mundo pelas manhãs com desenhos animados pelo friozinho na barriga ao tobogã pelo picolé de limão e pelo chicabon pelo tatuí e pelo tatubola pelas frutas azedinhas a pitanga e a acerola pelas frutas suculentas e babantes pelo cheiro de eucalipto e de amaciante pelo jeito lento do elefante pelo beijo estalado na orelha e no cangote pelo som fanhoso do fagote pelos animais engraçados, a girafa, o camelo e o tamanduá bandeira e, claro, pelo ornitorrinco e pelo mafagafo que mafagafeia nunca digo meu deus eu não mereço. Se acaso o onisciente escuta? Digo, por tudo, e mais um pouco, eu agradeço.

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sexta-feira, novembro 25, 2005

vontade - outra

ah, sim. a vontade voltou.

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todos os eus e mais alguns - parte I

foi anteontem. à noite. passava de uma da manhã. estava saindo do festival de cinema, lembrei que não tinha tomado meu remédio para pressão. sim, tenho pressão alta. com trinta anos, mas essa é outra estória. entrei na única farmácia aberta a essa hora.

pedi meu remédio, zonzo de sono. o vendedor mal me atendeu, jogando o meu precioso remedinho por sobre o balcão. estava imerso numa profunda - e, ao que parecia, seríssima - discussão com outro cliente, os dois com ares severos, encarando uma folha de papel. dei de ombros, fui pagar o remédio. feito, voltei às atenções pros dois, ainda sérios diante do intrincado documento. curioso, não resisti e perguntei, de onde estava, o que acontecia. "a receita, moço, a gente não entende nada do que está aqui."

por dois segundos, pensei, ora, que mal há nisso, e, sim, isso mesmo: pedi pra ver a receita.
os dois correram mais que prestativos ao meu alcance. o balconista/farmacêutico me passou o papel, já se desculpando, nunca tinha visto caligrafia assim, não dava pra entender nada. como isso podia, que desdém com o paciente, pois.

eram dois remédios. a letra era realmente horrível, simplesmente impossível de se decifrar. mas, num momento de inspiração divina, entendi o primeiro garrancho. aquilo ali não era um ele, era um tê. aquele esse não era um esse, era a letra a. pois, no meio da noite, de madrugada, em uma farmácia esquecida do mundo, proferi a mágica palavra: "azitromicina". olhei pro rosto dos dois, com o ar mais profissional que pude encontrar. o dono da receita olhou para o vendedor, que rapidamente correu para as prateleiras procurar o remédio.

não se dera por satisfeito, meu colega de compras noturnas. virou-se pra mim ansioso e perguntou pelo outro nome. eu, já sentindo os seis anos de faculdade e mais dois de residência exalando pela pele, resolvi arriscar ainda mais e perguntei: mas, afinal, para que o remédio? para minha namorada, disse ele. é coisa de mulher, entende. baixou a voz, mas sem constrangimentos, continuou. uma infecçãozinha. na vagina.

céus, por que não uma dor de garganta. pressão alta. enxaqueca. não, tinha que ser uma vaginite. olhei de novo a receita médica, com a palavra vagina ecoando na cabeça. não poderia decepcioná-los agora. não agora. mas aquele rabisco não me parecia estranho. e então veio a segunda revelação. estufei o peito de declamei: "cetoconazol. oral".

o vendedor, que já vinha voltando com o primeiro remédio, deu meia volta para as prateleiras, em busca do segundo remédio, feliz, satisfeito pelo dever finalmente cumprido.

já ia saindo da farmácia, o rapaz veio e agradeceu. perguntou minha especialidade, e o endereço do consultório. "não clinico", respondi. mas agradeci o interesse mesmo assim.

no caminho do carro, pensei quanto um ginecologista deve ganhar. mais que jornalista, meu caro, mais. e um cirurgião?, e tentei calcular alguma quantia, afogando-me em zeros e mais zeros de cifras irreais. e, afinal, pensei, cirurgias também não devem ser assim tão difícil. quem sabe numa noite dessas. quem sabe.

a propósito: descobri o nome dos dois remédios pois, por um milagre dos céus, já havia tomado os dois. azitromicina é um antibiótico usado para infecções respiratórias - tinha tido bronquite umas semanas antes. e cetoconazol é um remédio usado pra queda de cabelo. não sei se a namorada do rapaz se curou dos problemas, mas caspa e tosse ela certamente não tem mais.

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segunda-feira, novembro 21, 2005

vontade

esses dias me deu vontade de fazer um blog. passou

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